Manoel de Barros – O poeta das naturezas e das humanidades!

O menino que carregava água na peneira

Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.

A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e
sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.

A mãe disse que era o mesmo
que catar espinhos na água.
O mesmo que criar peixes no bolso.

O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces
de uma casa sobre orvalhos.

A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio, do que do cheio.
Falava que vazios são maiores e até infinitos.

Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito,
porque gostava de carregar água na peneira.

Com o tempo descobriu que
escrever seria o mesmo
que carregar água na peneira.

No escrever o menino viu
que era capaz de ser noviça,
monge ou mendigo ao mesmo tempo.

O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.

Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor.

A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta!
Você vai carregar água na peneira a vida toda.

Você vai encher os vazios
com as suas peraltagens,
e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos!

O poeta e o poema acima me foram apresentados por Joana Benjamin, uma de minhas queridas filhas!

Beto Benjamin

Manoel de Barros, poeta mato-grossense nasceu em 1916 e viveu 97 anos. Dele se diz que era o Guimarães Rosa da poesia ou, que Guimarães Rosa era o Manoel de Barros da prosa. Escreveu muito. Foram vários livros e colecionou mais de uma dezena de prêmios. Foi um poeta brasileiro do século XX, da geração de 45 mas, sua poesia se situa nas cercanias das vanguardas européias e da Antropofagia de Oswald de Andrade. Recebeu dois prêmios Jabutis. Nos meios literários é o mais aclamado poeta brasileiro da contemporaneidade. Seu livro mais conhecido é o “Livro sobre Nada”. Dele dizia a crítica Berta Waldman: “a eleição da pobreza, dos objetos que não tem valor de troca, dos homens desligados da produção (loucos, andarilhos, vagabundos, idiotas de estrada), formam um conjunto residual que é a sobra da sociedade capitalista; o que ela põe de lado, o poeta incorpora, trocando os sinais”.

3 comentários em “Manoel de Barros – O poeta das naturezas e das humanidades!

  1. “carregava água na peneira”?, “era o mesmo que roubar um vento e sair correndo com ele para mostrar aos irmãos”?, “era ligado em despropósitos”?! “gostava mais do vazio, do que do cheio”?! “era capaz de ser noviça”?!! “Viu que podia fazer peraltagens com as palavras. E começou a fazer peraltagens.”?!!! “vai carregar água na peneira a vida toda.”?!!!!! “e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos!”?!!!!!!! MEU DEUS, O MENINO ERA A DILMA!!!…

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