Gravidade
Somos alguns, poucos-muitos
salão amplo – luzes e espelhos
corpos em movimento – olhares descomprometidos
juntos – diferentes razões, mesmo propósito.
Mestre e método – com eles
nunca perguntamos direito para onde…
Vamos!
Com algum esforço
obedeço
– logo eu, a desobediência em Pessoa!
Objeto mas, ainda assim, sigo o comando:
ergo vagarosamente – um braço:
O do abraço!
Sei que desafio tua força de atração;
temeroso – espero reação
teimoso, penso:
quanto custará
rebelde movimento?
o braço erguido
demasiado pesar
como notícia de morte inesperada!
O resto do corpo – grudado ao chão…
desgastado, de escuras tábuas…
sofridas por infinitas passadas de descalços lúdicos pés
Olho de soslaio, vejo o corpo inerte
contemplo a mão estendida
que consigo arrasta
prolongado pulso-braço-ombro…
quase tudo!
Com suave deslocamento, tento o indizível…
juntos – arroubo e atrevimento
blasfemo e arredio
busco quem sabe…
Deus!
Sem pestanejar, executo mestras ordens:
sim sinhô!
Nossos corpos
de tanto se erguerem
relutando
cansam, balbuciam, estremecem!
ensaiam
ondulantes movimentos – se sucedem!
serpentes mágicas
dançam!
bailarinos invisíveis de piano-melodias
divagam! Devagar, com pesar, impressão e esmero
braços erguidos, avançam esculpindo o ar…
Não re-sis-tem!
Sombras e luzes
primitivos gestuais
lembranças kármicas,
de escuras e invernais cavernas
coletiva – abissal procura,
ofegantes transpiram
em preto e branco…
Se tu me queres rastejando,
Sibilinamente replico…
Abatidos prostrados membros,
acusando o golpe
retrocedem…
Mãos escancaradas se apoiam no chão-tablado!
Corpos se elevam – estranhos impulsos te provocam – in-sis-tem!
Submissos cérebros, transmissores sinápticos de ordens e da vontade.
Formas, espaços-tempos, ventres, umbigos, seios: inspiram, suspiram
quase piram…
Nesse instante vida vibra, lateja, aquece, sofre, sua
esdrúxula apoteose de belos troncos nus – feitos para uns
formas nem tão perfeitas – feitas para outros
entre si diálogos-mudos, murmuram incompreensíveis filosofias estoicas.
Parecem contemplar Platão
que surtado do fundo de sua caverna,
cospe seu discurso-ódio pelo
Artista-Poeta!
De repente não se sabe donde,
ecoa a gargalhada
sinistro som, solfejo puro, ópera inacabada.
Atrasado, já perdoado e interrompendo tudo – chega um Hiato…
que entra direto,
na dança incontida – descontrolado!
Me carregam, indesejado – no meio do nada.
Flutuo sem peso – nem massa…
Arquejo…
me vejo – me ergo todo por completo
meneio, apenas a cabeça…
e tateio os quatro cantos
das paredes mentirosas deste mundo
não deixo barato!
Atento a tudo
nada vejo,
a tudo escuto
Dou-me conta enfim:
não é corpo meu que ali está!
Surpreso levanto atônitos olhos.
Não era mesmo!
Quem se atrevia?
Perplexo e admirado, de susto tomado reconheci: uma alma,
juro que não sabia!
Impressionado com surpreendente inversão
vi que o erguer do braço fisicamente
não correspondia…
era pura ilusão:
“Corpo, metáfora do tempo…”
entendo o que dizes
potestade das forças naturais…
magneto invisível e ultrajante
que tudo aprisiona e limita…
Amor? não poderás ser, jamais!
Rio
e ciente de teus poderes, estou!
Mas, se desejas mesmo demolir meu esforço
– eloquente e assombrada criatura –
por que sussurras bajuladora, ao meu ouvido:
“Deixe que Eu faço tudo
meu poder é real e invisível
bobo, não percebes?
larga teu peso solto
deixa
que eu resolvo”
Ao redor, busco as pessoas
donde surgiu infame fala?
silêncio…
sem resposta,
só me resta
viajar fundo
para dentro, de mim!
Contudo, num golpe rápido, devolvo e brado:
“Recuso tua proposta vã.
vai-te daqui…
ninguém te quer…”
Lembro bem oh! Majestade
não faz tanto tempo assim…
há apenas alguns anos-luz viajando tranquilo por esse universo infinito…
percorrendo o belo cosmos, embalado por tua universal constante,
lá pela altura de Andrômeda, dei de cara com uma estrela errante…
Era uma Supernova
estava irreconhecível.
Quase chorou!
Que cena! já pensou?
queixou-se amargamente de ti e da tua cúmplice ação
de estrela de primeira grandeza, graças à tua torpeza,
foi reduzida a estrela-anã!
Ora preciosa Rainha,
sei que zelas muito por tuas amizades:
portanto, fiques atenta para o que a teu respeito pensa
Isaac Newton, nosso matemático e teu cupincha…
Tu que tanto lhe deves o nome e a fama,
saibas que ele já decidiu rever seus cálculos, modificar tua equação.
Comovido com o drama da recém-nascida estrela – a Supernova,
quer arrancar de vez tua máscara vilã!
Indeciso ainda, não sabe quem cai primeiro:
se ele mesmo, tua constante ou a maçã!
Sei que ignoras solenemente meus impulsos!
Sei que sarcasticamente não dás a mínima,
para minhas tentativas de enfrentando, te abolir.
Já que impotente nesta luta sou
quero te propor um pacto, outro mister:
Manténs as estrelas no céu
para que não caiam de uma só vez
sobre minha atormentada cabeça…
e, por favor, insistas com a lua,
para que permaneça lá em cima, bem distante
assim, na Terra os poetas não precisam morrer mais!
Por fim, um último pedido:
contenhas com tua força bruta
os astros nas suas respectivas órbitas:
ordem, ordem no universo!
compreendes, Majestade?
não é pouco o que tens a fazer…
e se não atenderes meus pedidos
me vingarei duplamente pois
enfrentarás sozinha
a ira de Aguirres deuses
e de baianos Orixás!”
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Aqui de volta ao mundo-chão, a matéria-corpo refuga, recusa, tergiversa,
corre atrás
do pensamento
se esgueira – balança
chove, sopra, vento e eu!
Me amarra – me prende
nessa cota-plano-zero rasteira – vil
tua companhia sedutora – opressora
me mantém imóvel – orbitando
o buraco negro do meu umbigo!
Assim me dou por satisfeito…
Aprisionado, meu corpo se nega
maldito destino aceitar
Minha alma em protesto aberto e solto
desafiando e zombando de ti Gravidade,
voa…
Beto Benjamin
Dedicado aos colegas de Alongamento da turma de Jean-Marie Dubrul na Sauer Danças – RJ
Que lindo! Refiz nossas viagens matutinas através de tuas tão bem escolhidas palavras. Axé, baiano sábio…
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Eu tinha dúvidas, mas acabei de confirmar que você errou na escolha do curso em que é formado. Ou a escolheram por você, já que pelos meus olhos, sua praia está longe das exatas…
Engenheiro poeta é raro de se ver…
Parabéns
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Muito bem escrito e poético, parabens!!
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Lindo poema. Longo te faz pensar. Rico e em palavras, te preenche. Obrigada, amigo
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Bello, leve e profundo… da musica!
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Sublime como o Corpo em Movimento.
Levitei e ao mesmo tempo Aterrei ao ler cada palavra, pois acessa todas esferas do existir – do matérico ao sutil e efêmero. Parabéns por tamanha sensibilidade ao bordar tão bem com texto.
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Eu não sei se vc estava escrevendo ou dançando , eu também não sei se eu estava lendo ou flutuando ….. simplesmente genial !!!
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Vi neste lindo poema toda a beleza da aula do nosso mestre Jean Marie e dos meus queridos amigos na sala. Incrível. Parabéns por esta dançante poesia.
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