Nilton Souza: Fotógrafo ou Poeta Visual ? Pode ficar com os dois… Parte Final
A seguir, a parte final da entrevista com Nilton Souza cujo início foi postado em 5/3/2015. Ele fala como fotógrafo profissional: de sua carreira, visões, opiniões, vivências, histórias e sobretudo nos mostra suas fotos excepcionais.
Beto Benjamin (B. B.) : Você enfrentou situação perigosa alguma vez ao fotografar?
Nilton: Correr risco de vida? Corri o tempo inteiro…[rs]… Só de voos de avião e helicóptero foram milhares de horas… Agora veja, nunca computei o tempo que voei!. Poxa, quantas mil horas voei desde 1976 até hoje? Medo de voar? Não tenho. Nem nunca tive… Sou daqueles que acreditam que tudo vai dar certo e sair na mais perfeita ordem. Já imaginou se nessa profissão tivesse medo de voar? Estaria “ferrado”.
Veja na foto abaixo: eu, quando fui documentar a construção da Ferrovia de Carajás em plena selva amazônica. Era uma obra impressionante. Dava a impressão de uma gigantesca serpente no meio da selva…
B.B.: Você fotografou na Amazônia?
Nilton: Fotografei sim. A obra era a construção daquela ferrovia. Faz muito tempo, mas ainda me recordo bem. Eu, magro e franzino, fazendo um tremendo esforço físico para carregar uma maleta pesada, com a câmera e seus acessórios, fotografando tudo – com muito sacrifício -, mas com um prazer enorme.
Foi um presente registrar a execução de um projeto desses, testemunhando as técnicas da engenharia. Esses empreendimentos – as vezes visionários – foram e são importantes para o desenvolvimento do Brasil… Guardo grandes recordações de ver as pessoas – engenheiros, técnicos, mestres de obra, administradores, operários, peões etc – nos mais diferentes cantos do país, erguendo coisas monumentais, muitas vezes, em condições dificílimas… Saía sempre muito impressionado de ver a engenharia brasileira executando esses projetos e se superando a cada desafio…
Devo reconhecer que minha atividade como fotógrafo me trouxe uma enorme, verdadeira e inesquecível enciclopédia da vida. É um ensinamento atrás do outro. E não acaba nunca. Ao fotografar um canteiro de construção de plataformas de petróleo ou estaleiro, uma fábrica de automóveis, ou de cabos de fibra ótica se trava conhecimento com todo o processo envolvido. Se aprende como fabricar, montar, construir, produzir… Conhecer os materiais, equipamentos, métodos construtivos e, principalmente, as dificuldades.
Me sinto uma testemunha ocular da história da engenharia nacional dos últimos quarenta anos…
B.B.: Alguma fábrica lhe chamou a atenção?
Nilton: Sim. Muitas. Por exemplo, a fabrica de tanques para armazenamento de água da FORTLEV despertou minha atenção. É um processo interessantíssimo: os técnicos misturam os produtos químicos numa máquina, de repente, adicionam um pó e… Puff… Sai lá o tanque pronto!… Cacete! Foram tantos os processos que testemunhei. Sempre acompanhei com atenção todas essas construções. Conhecimento vivido mesmo, não foi lendo uma reportagem…
Inegavelmente, tem sido uma experiência educativa, inesquecível e enriquecedora…
B.B.: Você se lembra de algum caso curioso ou engraçado?
Nilton: Claro. Vários. Teve a história quando fui fotografar o shaft (poço) da mina da Caraíba Metais, que a Odebrecht construía no sertão da Bahia. Me lembro como se fosse hoje. Desci no shaft a 650 m de profundidade. Que sensação… Estou lá fotografando e de repente, um grande estrondo… Buuuuummmmm! Inesperadamente explodiu lá uma “zorra”. Ninguém avisou que ia ter explosão. Tremia tudo e eu não sabia o que estava acontecendo. “Êta pau… Tô ferrado” (pensei comigo mesmo olhando ao redor). Um medo danado. Tremedeira. A vibração durou algum tempo, foi diminuindo e, parou. Felizmente passou. Aproveitei, fiz minhas fotos e caí fora rapidinho…[rs]…
O shaft parou de tremer! Minhas pernas é que não!…
“Homi, seu menino!…. A gente passa por cada uma!…”
Me lembro também de outra situação. Esta curiosa. Estava voando num helicóptero, em plena floresta amazônica. Horas e horas de voo. Tudo verde… Olhava lá fora nos quatro pontos cardeais – norte, sul, leste e oeste -, e só via aquela mesma paisagem: floresta virgem!… Árvore para “dar de pau”. Dentro do helicóptero, só via homem. Aí tive um devaneio: já imaginou se o helicóptero cai e tivéssemos que recomeçar uma “tribo” dali?!… Concluí meu devaneio com uma triste constatação: Não seria possível…
Não havia mulher a bordo! Só com homem, não daria para gerar uma nova “tribo”!…
Veja que era nisso que eu pensava entre ansioso e preocupado a bordo do helicóptero, lá no meio da floresta amazônica!… Pode uma maluquice dessas?
B. B. : Um momento aí Nilton! Até podia. Uma tribo nova podia recomeçar, mas convenhamos que ia ser uma tribo alegre… Não concorda?…[rs]…
Nilton:…[rs]…Oxente… Que zorra é essa rapaz? Ficou maluco? Tribo alegre?!… Que alegria teria se eu sobrevivesse à queda, e não tivesse no mínimo uma mulher ao lado?!…[rs]…
B. B. : Como surgiu a ideia de fazer um livro de Fotografias?
Nilton: A idéia do primeiro livro ocorreu em 2009. Meu amigo Fernando da Rocha Peres, professor e membro da Academia de Letras da Bahia, olhou minhas fotos e disse: “Vamos levar para fazer na EDUFBa. Vou lhe apresentar. É lá que se publicam os livros.” Fomos. Tinha que me apresentar ao pessoal. Mostrar o projeto para ser avaliado etc…. Caramba! Todo aquele processo burocrático. Pensei que não ia dar certo. Quando mostrei a “boneca” do livro, todo mundo se encantou. Disse que precisava apenas da diagramação e do ISBN. Tinha recursos para fazer dois a três mil exemplares. Resultado: foram impressos cinco mil! Fiz uma doação de duzentos exemplares para a EDUFBa.
[EDUFBa – Editora da Universidade Federal da Bahia]. Nota de B.B.
[ISBN – International Standard Book Number]. Nota de B.B.
O livro foi batizado de “Salvador Aérea”. Consegui fazer uma pré-venda para grandes empresas. Fernando Peres escreveu uma parte do livro e convidou Angela Gordilho, arquiteta e professora, para escrever a outra. Reconheço e agradeço sempre o apoio deles e da Flavia Rosa. A primeira edição se esgotou em menos de dois anos. Foi um sucesso. Eu, já como editor e autor, lancei uma segunda. Recebi elogios do Dr. Robert Darnston, diretor da Biblioteca de Harvard, e do Dr. Aquiles Brayner, da British Library. A terceira edição atualizada deve sair até o início do próximo ano.
B.B.: Afinal, quantos livros você já publicou?
- Salvador Aérea
- Baía de Todos-os-Saveiros
- Salvador: Fé, Luz e Cor
- Viva Saveiro
Nilton: Para minha alegria até agora, quatro. Três, como editor e autor das fotos. E um, o “Viva Saveiro”, onde sou apenas autor das fotos. Esse livro contém cinco fotos históricas do incomparável Pierre Verger. Resumindo:
O primeiro, “Salvador Aérea”.
O segundo, “Baía de Todos-os-Saveiros”, apresenta fotos das regatas, seus roteiros, e bordejos dos saveiros na Baía de Todos-os-Santos. Explica o Graminho – um incrível conhecimento gravado numa tábua – contendo todas as proporções para a construção de um saveiro. Com o Graminho em mãos, o mestre construtor, que mal sabia ler, podia construir o saveiro nas proporções corretas. Calculava a largura, altura, tamanho do mastro e todas as demais dimensões necessárias à construção. Algo inacreditável! Pura sabedoria inserida num pedaço de madeira!…
O terceiro, “Salvador: Fé, Luz e Cor”, contém as religiosidades baianas, diversos tipos de arquitetura com vistas de exterior e interior, belos pontos turísticos, carnaval, acarajés, moquecas, pimentas e colares. Costumo dizer às pessoas:
“Se folhear esse livro perto do meio dia, vai mexer com o seu estômago!…”
Três mil exemplares Impressos em novembro de 2013 encontram-se no final de vendas. Haverá nova edição. Queria chamar a atenção para um fato curioso que ocorreu com esse livro: tentei fotografar alguns terreiros de Candomblé ao vivo, mas não foi permitido. Apesar disso, fotografei e incluí as belas esculturas dos orixás do artista Tati Moreno instaladas no Dique do Tororó.
O quarto livro, “Viva Saveiro”, traz a historia de cada um dos saveiros ainda existentes na Baía de Todos-os-Santos e também a de seus mestres. Essa obra foi um projeto da ONG “Viva Saveiro”(http://www.vivasaveiro.org/) que contou com o apoio do Ministério da Cultura (MinC).
B.B.: Você ainda pretende publicar um novo livro?
Nilton: Tenho dois em pauta:
“A beleza interior de nossa Salvador”, referindo-me à sagrada herança deixada pelos portugueses na Bahia. Nesse livro conto com o apoio de alguns “Imortais” membros da Academia de Letras da Bahia, como Aramis Ribeiro Costa, Fernando da Rocha Peres, entre outros. O livro trará uma visão de Salvador que as pessoas desconhecem.
Para dar um “gostinho” das fotos que estarão nele, veja acima: o Museu de Arqueologia, a Academia de Letras da Bahia, o Museu de Arte Sacra da Igreja de Santa Teresa e a Igreja de São Francisco com seu revestimento em ouro. Em geral, as pessoas que passam pela frente da Academia de Letras da Bahia, situada no bairro de Nazaré, e em outros pontos históricos, não se dão conta do tesouro arquitetônico existente, nem da sua beleza interior.
O segundo, “Bahia Litoral 932“, mostrará a belíssima costa da Bahia, com suas lindas vistas aéreas. Os 932 quilômetros representam o tamanho do maior litoral de um estado brasileiro, com suas convidativas costas: Descobrimento, Cacau, Dendê, Baía de Todos-os-Santos e Coqueiros. Tudo isso fotografado em dias de sol com marés e praias maravilhosamente encantadoras. Será um convite irrecusável para visitar a Bahia. Veja só as fotos acima…
B.B.:: Você se sente um fotógrafo ou um artista?
Nilton: Me sinto um fotógrafo com a cabeça mais artística, embora essas fotografias que estamos falando sejam muito técnicas, com muita simetria. Veja nas minhas fotos como as verticais são certinhas! Não pendem para um lado, nem para o outro. Tudo está conforme se vê na realidade…
Agora, produzir um livro premiado sobre o Mosteiro de São Bento e, logo na capa, ver as colunas todas inclinadas, isso eu não aceito. Dói!…
B.B. : De onde vem essa sua busca pela perfeição?
Nilton: Sempre tive. Parece que nasceu comigo. Está dentro de minha alma.
B.B.: Você tem muito ou pouco auto-controle?
Nilton: …[rs]… Puxa vida, falando de auto-controle, tenho duas histórias pitorescas para contar: a primeira, quando aos quatorze anos, fiquei quase bêbado numa festa. Era muito tímido e a turma queria que eu tirasse uma garota para dançar de qualquer maneira. Os amigos zoando: “Nilton não dança…”. “Mas, hoje ele tem que dançar”… Naquele tempo, o whisky era Kings Archer (lembra?) e ainda misturado com Coca-Cola.Uma verdadeira bomba! Que ressaca monumental eu tive! Foram três dias de mal estar no estômago… Foi o primeiro e único whisky que tomei em minha vida. A verdade é que acabei criando coragem mesmo, convidei a garota para dançar e fiz a minha parte, para alegria de todos… Meio tonto sim, mas sem perder o auto-controle…[rs]…
A segunda, mais engraçada: é sobre o controle do auto…[rs]… com o devido perdão do trocadilho que sei que você tanto gosta. Quando eu tinha vinte e dois anos, estava numa “farra” em Itapoã com um amigo e duas garotas. Tomamos “todas”. Bebemos um litro inteiro de batida. No final – todos já grogues – chegou a hora de ir embora. Voltar para casa em Salvador. Veja só o que é controle! Mesmo embriagado falei: ” Alguém aí tá com pressa?” Somente eu tinha carteira de motorista. Ninguém respondeu nada. Retruquei: “Então vamos voltar para casa, mas no meu ritmo…”. Rapaz, dirigi o carro na segunda marcha de Itapoã até Salvador, passando por Brotas para deixar as meninas. Consegui – nessa “velocidade” – chegar na Av. Joana Angélica na casa de meu amigo Besouro, onde dormi…
Você acredita que no caminho saí do carro para vomitar e continuei na mesma balada? Sempre na segunda marcha… Quase fundi o motor do arrumadíssimo “fusca” que eu chamava carinhosamente de “Gaspar”. A moral da história é que eu sabia que tinha que fazer aquilo, mas daquele jeito… Tinha consciência que ia correr riscos, porém saberia me controlar.. Não sei explicar? Se fosse hoje, com a Lei Seca, não sei onde iria dormir!…[rs]…
B. B.: Que critério você usa para comprar seus equipamentos?
Nilton: Sempre busco o melhor. Não adianta comprar qualquer coisa. A minha laminadora tem 18 anos, “top” de linha. Maravilhosa. A impressora de 110cm com 12 cartuchos. Isso tem a ver com a filosofia da busca pela qualidade. No final, sai mais barato. As três câmeras que tenho atualmente são as melhores no padrão CMOS 36x24mm. Atendem muitíssimo bem… Estou satisfeito até sair a Canon de 50 MP já anunciada, e que certamente substituirá uma das existentes.
B.B.: O que muda na sua fotografia com a aquisição do drone?
Nilton: O drone é uma evolução inexorável. Quando falo em drone não é qualquer droninho de mil dólares. Estou falando de um de verdade mesmo. Nesses droninhos você acopla uma câmera GoPro daquelas que se põem no capacete, na bicicleta, na prancha de surfe e arrasa! É uma combinação imbatível. Entretanto, se vai fotografar um prédio, o Elevador Lacerda, uma torre, sai tudo distorcido. O horizonte sai curvado. Chama-se tecnicamente “distorção de barril”. Numa aventura, num surfe, numa prancha, não há problema. Ninguém nota isso. Agora, o nosso drone é poderoso. Tem oito hélices e Guimball para estabilizar a câmera Canon 5D Mark III (por enquanto)…[rs]…
Existem trabalhos que o helicóptero é absolutamente imprescindível. Fotos em grandes altitudes ou indústria com grandes áreas – como a Dow Química na Bahia – prefiro o helicóptero. Nas fotos que faço para o “Bahia Litoral 932″ utilizo um, devido à flexibilidade. Porém, para fazer um trabalho de um loteamento em Pirajá, bairro de Salvador famoso pela batalha da Independência da Bahia, utilizarei o drone. Resolve bem. Você viu as fotos em Villas do Atlântico e na Estrada do Côco para a empresa CLN, feitas com ele, não foi? Viu a qualidade? O resultado é ótimo.
Normalmente, sempre que o cliente me pede alguma coisa, procuro saber o que a foto “vai dizer”. Baseado na minha experiência, recomendo a forma mais econômica: drone ou helicóptero. Certamente, com a melhor qualidade.
O resultado é delirante. Você está aqui embaixo com sua maquininha. trrrrrrrrr… Esquerda…. trrrrrrrrr… Direita. O drone “paradinho da silva…”
Só lhe obedecendo. Gira a câmera para cá, faz a foto. Gira para lá – trezentos e sessenta graus – com um resultado excelente e a um custo bem menor. Não é notável?
B.B.: Quando você está fotografando com auxílio do drone, vê exatamente aquilo que sai na fotografia?
Nilton: Claro que sim. Esse drone possui dois “displays”: um para o seu comandante e outro para o fotógrafo, onde se vê perfeitamente o que se fotografa.
B.B.: Como foi a história dos Saveiros?
Nilton: Foi em 6 de outubro de 2006. Estava num helicóptero fotografando a Refinaria de Mataripe no fundo da Baía de Todos-os-Santos. Ao retornar para o aeroporto, avistei dois saveiros passando próximo da ponta de Humaitá. Nem pestanejei. Disse para o comandante: “faz a volta, passa ali rapidinho”. Cliquei os saveiros. Fotos lindas. Coloquei as imagens na parede do meu escritório. As pessoas viram, gostaram, compraram. Um dia, Pedro Bocca, da ONG Viva Saveiro me convidou: “Você não quer participar de uma regata?” Topei na hora. Participei da primeira regata e me empolguei. Na segunda, banquei o helicóptero e fui presenteado pela mãe natureza com ventos fantásticos. Surgiram linhas de espuma d’agua, como rastros dos Saveiros, propiciando simetrias inacreditáveis. Veja as fotos abaixo….
A foto do saveiro solitário foi feita com ele bordejando… Era só relaxar e ouvir os murmulhos do vento na vela impulsionando a embarcaçâo… Olha só o céu totalmente escuro com o arco-íris no fundo… Pura poesia e mágica divina!… Êta Bahia!…
B.B.: O que Pierre Verger (http://www.pierreverger.org/br/) significa para você?
Nilton: Um cara que amou profundamente a fotografia e a Bahia. Conheci o Pierre Verger. Dedicou-se de corpo e alma às suas conexões religiosas e à fotografia. O resultado foi um maravilhoso registro histórico. Deixou um legado muito especial para os baianos. Já imaginou o registro histórico dos saveiros sem o olhar do Pierre Verger?
O saveiro, para quem não sabe, é um meio de transporte “suave”. Foi muito importante na movimentação de cargas no Recôncavo baiano no século passado. Desliza sobre a água, impulsionado pelos ventos em suas grandes velas… Transportava tudo. Já pensou na cerâmica sendo transportada em estradas sem asfalto de chão batido?… Em lombo de burro? Ia chegar tudo arrebentado!…O saveiro não, quase voando sobre as águas. Veja essa foto: “Cerâmicas dentro do Saveiro”. Muito técnica. Capturada apenas com a iluminação ambiente. Graças à tecnologia, consegui um resultado desses.
B. B.: Quantos filhos você tem? Por acaso, algum fotógrafo?
Nlton: Tenho dois. Um fotógrafo. Pense num cara perfeccionista: é o Joás. Vou te contar…. Acho que é meio “pau-a-pau” comigo. Outro dia, fazendo uma página para o meu site, pedi para ele dar uma olhada. Foi uma surpresa: “o cara” viu tanta coisa que eu não tinha observado…
Semana passada, Joás fotografou o Parlamento Europeu em preto e branco e me enviou. Examinei as fotos, selecionei determinadas áreas, meti luz aqui e ali…. Fez uma diferença!… Então existe uma interação entre nós, onde cada um entra com sua “crítica construtiva”… Curtimos isso.
Nunca me esqueço quando lhe dei uma câmera aos seis anos de idade. Fotografou o muro lá de casa com uma visão da composição estética que já mostrava quem seria mais tarde… Até hoje me arrependo de não ter conservado aquela foto.
(B.B.: Abaixo, uma amostra do trabalho fotográfico do Joás em Londres)
Desde a primeira câmera que Joás mostrou essa busca pelo perfeccionismo. E como eu, demonstrou um grande interesse pela fotografia. Eu tinha uma Hassel ArcBody, câmera super-técnica; só de níveis de bolha eram quatro. Ele aprendeu a mexer, fotografou toda a construção da fábrica da Ford em Camaçari e o Complexo Sauípe. Fez um ótimo trabalho.
Posso dizer que ele aprendeu tanto que, em poucos meses após ter chegado em Londres, um amigo mostrou-lhe um anúncio de uma agência de propaganda à procura de um fotógrafo especializado em arquitetura. Ele foi lá, fez a entrevista e surpreendeu os ingleses com o seu trabalho. Saiu contratado.
(B.B.: Abaixo um pouco mais do trabalho fotográfico do Joás em Londres)
Vou contar uma história do Joás: Ele tinha feito um trabalho para um grupo carnavalesco aqui em Salvador. Pense um DVD maravilhoso, com a capa de um profissionalismo extremo! Ele fez! Eu vi e disse: “Caramba! Te prepara pois no próximo ano vai bombar”….Chegou o próximo ano. Ele disse: “meu pai, os caras não tão nem aí, não aprovaram o meu orçamento. Olha agora as fotos que estão aqui, no site deles, tudo tremido, sem foco. Olha a porcaria que eles fizeram aqui”…. Não hesitei ao notar a cegueira desses donos de blocos e camarotes carnavalescos. Falei: “Vá embora daqui”! Ele corajosamente foi.
Primeiro para Nova York e depois para Londres. Ganhava direitinho e paralelamente fazia outros trabalhos. Juntou uma boa reserva para aguentar uns dois anos. Montou um “puta portfólio” e um site maravilhoso. Depois de algum tempo, trabalhando para uma empresa, pediu demissão para tentar “voo solo”. Viajou muito. Visitou mais de 30 países e territórios. Foi a India, Paquistão, China, Irã etc.
Essa foto do lado é o auditório da ONU. Achei um ambiente imponente com a foto muito bem enquadrada e com um belíssimo teto. Tudo é uma busca por perfeição e por uma forma precisa de fazer.
Joás também criou um generoso blog (http://www.easylondonblog.co.uk) para ajudar os imigrantes novatos em Londres. Através dele, conheceu a Ana Cruz, uma portuguesa linda, carinhosa e trabalhadora. E mais… De encantadora família. Apaixonaram-se. Em breve devem oficializar o casamento.
O “cabra” não é moleza não!
Estamos permanentemente em contato, trocando experiências, idéias e sobretudo crescendo juntos.
B.B.: Pode falar mais desse blog?
Nilton: Ele, com seu coração grande, baseado em sua própria experiência de imigrante e desejando ajudar pessoas que vão estudar ou trabalhar na Inglaterra, criou uma espécie de centro de informações e escreveu como introdução:
“Depois de passar por todos os perrengues possíveis durante meus primeiros anos na Terra da Rainha, eu resolvi criar esse blog, dar o caminho das pedras, escrever um pouco de tudo que um indivíduo precisa saber sobre Londres, com informações importantes; principalmente para aqueles que tem a intenção de sair das barras da Dilma e vir morar aqui, ou pelo menos tentar uma nova vida, o que é uma ótima ideia. Tento fazer deste Blog um informativo completo sobre Londres, desmistificando mitos, trazendo dicas e curiosidades sobre esta cidade que tanto chama a atenção dos brasileiros.”
B.B.: Que história legal essa do seu filho… Parabéns! O que você diria então para os jovens que pretendem ser fotógrafos?
- Filho e pai fotografando a Regata Aratu-Maragojipe
Nilton: Não posso indicar o caminho que eles devem seguir. Agora, se quiser fazer Fotografia, tem que ter dedicação absoluta, paixão. O conforto monetário vai depender do “network”. Das conexões. Conhecer “fulano” que de repente, vai te apresentar a outra pessoa, como aconteceu com Joás que conheceu e fotografou a casa de um investidor – casa de quinze milhões de euros – em Mônaco. Ele gostou tanto, que o apresentou para outras pessoas do seu círculo de relações e Joás mandou ver…
Fazendo bem feito, dentro do “network” não tem como dar errado. Existe também um outro lado da Fotografia, chamado Fine Art que tem a ver com a exposição em Galerias, que mais uma vez depende de “network”. Um “cara”, por exemplo, conseguiu vender uma fotografia por dezenove milhões de reais. Amigos da Oprah!…(já ouvi falar que esses valores absurdos contém coisas “estranhas” no meio, mas…).
Eu, sendo um pouco crítico no meu livre pensar, observo que existem certas “Artes” sem composição, técnica, beleza e traços marcantes que levem diretamente ao seu criador… Costumo ouvir: “é a visão do artista”, que é assim mesmo!…
Tem coisas que não concordo. Costumo chamar de “arte preguiçosa”… Para mim, não dá!… Não é por aí!…
Falando de conforto material, o meu, atualmente, vem através da fotografia aérea, industrial e de arquitetura que classifico como Fotografia Comercial. Ainda pretendo organizar minha galeria de fotos que considero Artísticas num livro, imprimir uns vinte exemplares na BLURB e enviar para galerias pelo mundo afora. Deus queira que tenha reconhecimento e eu, um ótimo retorno.
[BLURB: Site onde suas idéias podem se transformar em livros bem impressos por um preço razoável]. Nota de B.B.
B.B.: Existe alguma foto que você não conseguiu fazer?
Nilton: Existe. Deixei de registrar o desenvolvimento urbano das cidades por onde passei… Essa é a fotografia que não fiz.
B.B.: Qual será o futuro da Fotografia?
Nilton: Já estamos no futuro… Aqui prá nós, a Canon anunciou para breve uma câmera de 50 megapixels. Um extraordinário poder de ampliação. No ano 2000 isso era puro sonho. E daqui a 25 ou 50 anos? Acho que daqui a 25 ainda verei! “Bem Véinho” mas verei…
Observe também que as fotos impressas atualmente – mesmo coloridas – poderão ser vistas daqui a trezentos anos ou mais, com alta qualidade. Isso não acontecia com as fotografias coloridas impressas e reveladas quimicamente.
Arrematando, dizia a minha Vó Libânia: “Meu filho, o futuro só a Deus pertence”.
B.B.: Você pensa em se aposentar?
Nilton: Não vai demorar muito…[rs]… mas como amo o que faço, continuarei alimentando este amor para sempre… Fotografar é prazeroso.
B.B.: Você tem uma foto preferida?
Nilton: Não tenho uma preferida não! Agora vou te contar um segredo: fiz uma série de fotografias completamente diferente de tudo o que já fiz. (Ainda não coloquei no meu site.) Chama-se Olhares. As pessoas já me perguntaram: “essas fotos são suas?”
A história delas foi assim: Eu estava no “comboio”, com minha querida amiga Dra. Ana Kolbe, dentista. O “comboio” é formado por uma equipe de pessoas que desejam fazer o bem aos outros. Recolhe cestas básicas, roupas, lonas, brinquedos etc. Elas enchem os caminhões e levam para distribuir aos necessitados em regiões pobres da Bahia. A Ana Kolbe cuida, com muita dedicação, de melhorar o sorriso das pessoas. Havia até aula de como escovar os dentes e quem ministrava era a Leda e a Teresa, minha esposa querida.
Essas crianças estavam numa fila e ao me aproximar, fui repentina e profundamente tocado por seus olhares. Fotografei-as e fui embora. Veja abaixo o meu segredo: o olhar dessas crianças.
Muito difícil de explicar e mais doloroso ainda de ver… Este é o retrato da pobreza, da desesperança e do medo das crianças sofridas do nosso Brasil. O que motivou esses Olhares? O que está por trás deles? Serão esses os olhares das crianças sem futuro? Não sei. Como você diz : Nunca se sabe…
Se quiser saber mais sobre Nilton Souza visite o site:
http://www.niltonsouza.com.br
Se quiser saber mais sobre Joás Souza visite o site:
http://www.architecturalphotography.london