A Poesia de Érico Braga Barbosa Lima – Cena XVI

Inaugurando a Galeria de Poesia do Nunca se Sabe, devo dizer que sou “fã de carteirinha” da poesia de Érico Braga Barbosa Lima. Nessa estréia, apresento o poema Cena XVI extraído do livro “Cenas de mortes Vulgares”.

Dono de um estilo todo próprio, a poesia descomportada e desconstruída do Érico invade a nossa leitura, nos arrebata sem aviso prévio e nos conduz de forma vertiginosa por um turbilhão de nuances e sentires com palavras e versos dançando incontinente e impiedosamente à nossa frente, até que, no fim da leitura, é preciso fazer uma pausa, respirar fundo e buscar fôlego para embarcar na próxima Cena…

Poeta carioca, deu uma entrevista para este site a ser postada brevemente, falando de sua carreira literária e de sua vasta obra multimídia.

CENA XVI

GARGALHA e ri-se desgrenhada e louca
desdenha do mundo solta o cabelo
                                        pinta a boca
prende a franja oculta um olho desfaz a pintura
range o dente troca a lente recolore a loucura
de preto reflexo um beijo no espelho
desmancha o cabelo desfaz o beijo

                                                      tira a roupa

             E na triste fratura
Dos cacos da imagem no corpo cansado
Despencam os olhos

Triste miragem

Esconde em rasura em cínica fuga
as íntimas rugas do esboço do rosto
Desgosto…
              Reage!
                                                      De um lado
apruma o busto suspende a cinta
ajeita sugere a forma perfeita a calça que cava
              e fere
                            Impõe-se o salto enrijece a coxa
O cansaço… se esquece
comanda:
                            “enrijece”

A unha é vermelha
             O olhar é sangüíneo
                          A boca é roxa…

Varizes se escondam no prumo da pose
pois mais do que nunca agora ela toda
é mais do que o mundo
                           que todas as outras

Gargalha e ri-se enfeitada e rouca!

                                     Todo orgasmo, toda volúpia
                          nessa hora é pouca…

Nada contém o desenfreio absurdo
do pacto da carne com o desejo surdo
Espalha o gris sob a concha dos cílios
A lascívia e o gozo… são todos seus filhos

Entalha um riso na face estupenda
Assim desejada ela que se estenda
o desejo aos poros e em tudo se espalhe:

                         “Que a luz imprecisa da impressão se acenda…
                         Se apague o sol, que o dia falhe!
                         Que o mundo inútil não mais trabalhe!
                         Que o mundo então vire
                                                  ilusão tremenda!”

Feroz e Profunda no abismo da fenda
Violenta e Fecunda a noite chacoalha
pra isso só baste querer
                                                “é o que basta”
a papa lasciva que a língua arrasta
ao lóbulo lívido e lânguida espalha
promessas de terras de juras já gastas
a ética cíclica abrupta e falha
do choque cinético as Carnes que o início
o fim e o veio… a tudo embaralha

Sonhos da terra onde tudo se encaixa

A vaidade oscila se altiva ou rebaixa
de salto ou de quatro se orgulha do vício
sob o peso da farsa… é tão doce o suplício

À vida se entrega e rica ela sonha
pra tão doce sonho não há sacrifício
Extrai seu ouro do tolo artifício
quer se abafe no grito se oculte ou se exponha…
                                                           A prostituta sonha…

Desperta!

Sobre um copo na quina
             dormira da bancada de um bar de esquina
             a rua deserta
cinco da madrugada

             Incerta
                         na lembrança embriagada
vê as noites enfiando-lhe abaixo a goela cerveja
Moeda ilusão porrada…

Só!

             Ajeita a bolsa levanta toma estrada

                                       atrás dela
                                       revolve-se poeira… tristeza levantada

A poesia
é uma puta velha

nenhum homem por ela dá mais nada.

0Érico Braga Barbosa Lima (1971 – ) é engenheiro mecânico, mestre em Literatura Brasileira (Transdisciplinaridade em Augusto dos Anjos), doutor em Estudos de Literatura (Perfis Leitores de Tobias Barreto), músico e compositor (com mais de 180 composições), poeta, ensaísta e escritor (com mais de 16.000 mil versos publicados e 8 livros editados), foi professor da USU, da UGF, e da UniverCidade, da pós-graduação lato sensu  da PUC-Rio, é pesquisador da Cátedra UNESCO  de Leitura PUC-Rio, coordenador de pesquisa do Instituto Interdisciplinar de Leitura PUC-Rio e, atualmente, faz seu pós-doutoramento na aplicação do dialogismo bakhtiniano na poesia brasileira.”

2 comentários em “A Poesia de Érico Braga Barbosa Lima – Cena XVI

  1. E um grande amigo de juventude e um dos melhores amigos que tive ! E uma pessoa formidável, Alegre, Compositor, Surfista, Sensacional pessoa e amigo . Há uns 35 anos sem nos vermos , a saudade de um amigo extraordinário. MUITAS farras e noitadas agradáveis com lual em galeras animadas e ele surpreendendo sempre com suas músicas e animações!!! Sem palavras a falar desse cara EXTRAORDINARIO !!! PARABENS MEU MANO !!!

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