E o vento levou!

Se o vento levou mesmo, eu não sei e nunca vou saber…

Só sei que os psicanalistas Carlos Mario Alvarez e Aluisio Pereira de Menezes levaram. Um monte de gente para assistir e discutir – sob o ponto de vista da Psicanálise – trechos do famoso épico americano lançado em 1939 E o vento levou

Com marcações de teatro e música, o evento buscou fugir da “mesmice” que geralmente constitui os habituais seminários de Psicanálise. Conseguiu!

O encontro Psicanálise &  Cinema foi promovido pela dupla Alvarez & Menezes que, num auditório no Leblon no Rio de Janeiro apresentou trechos do filme com intervenções, interpretações e debates sobre significados e mensagens para um grupo  de pessoas que foi conferir as manhas, artimanhas, dramas, tragédias, receios, meneios, tateios e outros rodeios de Scarlett O’Hara – protagonista da película de Hollywood – que mais faturou no mundo. Foram mais de 4 bilhões de dólares a preços de hoje. É muito dinheiro para pouco vento…

Segundo Alvarez, “Promovi este evento porque acredito e sonho com ideias que nos transformem. Me sinto à vontade para aglutinar pessoas que tenham desejos como o  meu. Busco o exercício da Psicanálise com toda a incerteza e contraditoriedade que ela porta. E o Vento Levou traz na figura da personagem Scarlett O’Hara o emblema de um feminino em construção, com seus paradoxos, incongruências e inconsistências, além de um arquétipo que insiste em não desistir.”

O filme possui cenas impagáveis interpretadas por seus principais atores: Scarlett O’Hara (Vivien Leigh), Rhett Butler (Clark Gable), Ashley Wilkes (Leslie Howard), Melanie Hamilton (Olivia de Havilland) e a negra Mammy (Hattie McDaniel).

O drama épico, baseado no romance de Margareth Mitchell, carrega alguns fatos pitorescos:

  • Foram entrevistadas pelo produtor David Selznick mais de 1.400 mulheres para o papel de Scarlett O’Hara. A escolhida foi Vivian Leigh;
  • As filmagens esperaram dois anos para começar. O produtor não abria mão de ter o canastrão Clark Gable no papel de Rhett Butler;
  • Foram necessários três diretores para que o filme fosse concluído;
  • Recebeu treze indicações para o Oscar e levou dez, inclusive de “melhor filme”;
  • A exibição dura quase quatro horas e sua estréia foi em Atlanta, Georgia, em 15 de dezembro de 1939;
  • A atriz Hattie McDaniel que interpreta Mammy não pôde assistir ao lançamento por ser negra. Foi ainda, com esse filme, a primeira atriz negra americana a conquistar um Oscar;
  • Ocupa até hoje o quarto lugar na lista de “Os Melhores Filmes dos Estados Unidos” do American Film Institute (AFI).

O filme se passa no século XIX e retrata da perspectiva sulista – escravagista – tanto o período que antecede e atravessa a guerra civil americana, como também o posterior. Conhecida como Guerra da Secessão, o conflito se deu entre os estados do sul (Confederados) e os estados do norte (União), durando de 1861 a 1865 e terminando com a vitória dos nortistas e a abolição da escravatura.

Mostra ainda toda a riqueza, pompa e sutileza da vida dos barões nas “plantations” de algodão da época que viviam da exploração da mão de obra escrava nas plantações e claro, não queriam abrir mão daquele “status quo” – razão da guerra civil – que custou a vida de 600 mil pessoas.

Na sessão promovida pela Psicanálise & Cinema, Alvarez & Menezes deram interpretações psico-analíticas de algumas cenas dos personagens, das suas relações e conflitos conduzindo com vivacidade os debates com os presentes, estimulando as suas manifestações. Alguns participantes deram mostras, com suas intervenções, de que também eles concordavam que o que rolava por trás daqueles dramas era mais coisas do que simplesmente o vento…

Dentre as várias sacadas sobre o filme e seus personagens destaca-se a pulsão pela vida, num eterno recomeçar, mostrando que a sobrevivência é uma força monumental para a Humanidade seguir existindo, a despeito dos obstáculos, das dificuldades, das lutas, das vitórias e das derrotas. O filme deixa muito claro que é possível, sempre, recomeçar…

Essa parece ser a mais significativa de todas as mensagens – conscientes e inconscientes – do filme. Mesmo quando tudo está perdido! Para isso basta sonhar, acreditar e enfim recomeçar. Já que o vento levou, resta  como diz o popular ditado “levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima”… Isso a Scarlett O’Hara faz com grandiosidade…

                                       Cenas do Seminário Psicanálise & Cinema

O evento teve também a  curiosa e surpreendente participação da jovem atriz Isadora Ruppert de 17 anos, que vestida com trajes de época fez o papel de uma Scarlett O’Hara do Leblon – recitando falas escritas por  Carlos Mario Alvarez.

Teve ainda a participação do músico das ruas do Leblon Christian del Rio que tocou violão no intervalo.

A cena final – para delírio de todos, psicanalistas ou não – é freudiana, literalmente. Nela, Scarlett, prostrada, ouve a voz de Gerald O’Hara, seu pai morto… O pai (ou a mãe), sempre ele (ou ela)!… Puro Édipo… Quer mais Freud do que isso? Deixa o vento levar…

Concluindo – depois de tudo que vi e ouvi no original evento -, dou a minha interpretação parodiando a já célebre frase:

não foi o vento, estúpido. Foi o olhar!…

Beto Benjamin

Nota: Fotos por Alexandre Resende

 

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

%d blogueiros gostam disto: