Bate papo com Jean-Marie Dubrul – Professor de Alongamento e Ballet da Sauer Danças
B. B. (Beto Benjamin): Como foi que começou essa história de alongamento e ballet?

Professor de Alongamento e Ballet na Sauer Danças Rio de Janeiro, Brasil
Jean-Marie: Foi na França. Posso dizer que tive o privilégio de fazer aulas com duas professoras de ballet maravilhosas: Nora Kiss – uma russa branca que morava em Paris e Rosela Hightower – uma americana que também vivia na França em Cannes. Duas grandes profissionais da dança no mundo.
Ambas eram figuras extraordinárias do ballet, que cativavam com a maneira de ensinar. Deram aulas para alunos de vários países.
Nas companhias de ballet que trabalhei pelo mundo, virei primeiro bailarino e de vez em quando, o Diretor me chamava para dar aula. Foi assim que comecei a ensinar e fui com o tempo, aperfeiçoando minha técnica. Sempre curti dar aulas e curto até hoje. Quanto mais faço mais sinto prazer, mais aprendo.
B. B.: Quais as diferenças entre essas duas professoras de ballet?
Jean-Marie: A diferença estava na maneira como cada uma delas se colocava perante as pessoas, os alunos. Rosela era uma primeira bailarina conhecida na França e no mundo inteiro e Nora Kiss era uma profissional também famosa e já com uma certa idade.
B. B.: E no alongamento, houve mais algum destaque?
Jean-Marie: Sim. Houve uma outra professora em Paris, Lilianne Arlen. Uma bailarina que se acidentou no teatro. Ela caiu do alçapão no palco e ficou paralisada das pernas o resto da vida. Dava aula em cadeiras de rodas. Era muito impressionante. Todo esse trabalho de alongamento, postura e tudo mais, foi com ela também que aprendi, num estúdio na Salle Pleyel em Paris.
B. B.: Qual o significado da repetição? Ela não é uma coisa enfadonha, que cria uma rotina tornando as coisas desinteressantes?
Jean-Marie: Não, muito pelo contrário. A repetição é a chave de tudo. É justamente a maneira para se aperfeiçoar e poder entrar em outra dimensão. Em todas as artes, a repetição é primordial: num concerto de música, numa orquestra etc. Um músico, tem que trabalhar muito, diariamente, repetir muito, para chegar lá. Bailarino, esse então tem que treinar muito. Muito mesmo. Não é brincadeira se tornar um excelente bailarino.
B. B.: O que os alunos significam para você?
Jean-Marie: Minha relação com os alunos é uma relação de troca. O professor só existe por causa do aluno. O grande desafio é aprender a descobrir o aluno, a gostar dele ou dela pois, se não gostar, não tem como ensinar nada a ninguém. Para mim, é nessa troca que acontece alguma coisa e gosto muito disso.
B. B.: O heterogêneo numa aula complica mais as coisas ou não?
Jean-Marie: Não é problema. É um desafio encontrar uma linguagem que possa ser compreendida e que acrescente alguma coisa a cada aluno, seja ele um profissional que já vem com certa bagagem ou alguém que está iniciando a descoberta do próprio corpo.
Isso foi uma coisa importante que aprendi cedo na profissão e observe que só no Brasil, trabalho há mais de 35 anos. Era preciso descobrir uma linguagem, uma solução, onde cada um pudesse encontrar seu conforto e satisfação.
Compare o trabalho entre você – que é leigo praticamente – e a Fernanda que já era bailarina – além de excelente artista – e tem se tornado uma bailarina cada vez melhor. Cada um de vocês tem a necessidade de encontrar respostas para suas expectativas. É aí que está o trabalho.
B. B.: Em que consiste esse trabalho?
Jean-Marie: Consiste em procurar um certo equilíbrio, uma dinâmica do movimento , uma respiração correta. O tempo inteiro. O que importa não é só fazer certos movimentos. O que resolve de verdade é como fazer o corpo chegar neste ou naquele posicionamento. É o movimento que vai transformando tudo. Ele é que dá esse equilíbrio e prazer.
B. B.: Como você saca que a pessoa está se desenvolvendo?
Jean-Marie: Ah! Isso é na hora! Bato o olho e já sei como está a pessoa: um dia, três dias, seis meses depois já se nota a diferença. No olhar da pessoa e no meu próprio. Eu também participo desse processo. É uma transformação onde eu também vou junto.
B. B.: Onde você vai buscar as “pérolas” que solta de vez em quando nas aulas?
Jean-Marie: É a vida que ensina. É de lá que elas surgem.Também não se pode ser sério demais fazendo esse trabalho.Tem que disfarçar um pouco a realidade, a dureza da vida. Já chega eu ser francês, não é? Não tenho culpa de ter nascido lá. E olha que já melhorei muito aqui no Brasil.
É possível começar a fazer ballet aos 20 anos, por hobbie? mesmo que não seja uma pessoa muito ativa, mais ou menos flexível?
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Denise. Perguntei ao Jean-Marie. A resposta é sim. É sempre possível começar aulas de ballet desde que não se queira ser uma “primeira bailarina”, dá para se ir muito longe…
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