Kóblic – Um mergulho na tormenta da alma de um capitão da ditadura argentina…

Mais um show de interpretação do Ricardo Darín! E não apenas dele!

A partir de um pano de fundo tenebroso – a triste história de como a ditadura argentina se livrava de seus adversários lançando-os vivos ao mar – o diretor Sebastián Borensztein consegue prender a atenção do espectador do princípio ao fim do filme, numa trama que mistura suspense, amor, sofrimento e drama.

Mesmo sem ir a fundo na questão da tortura e de como os militares argentinos pintaram com cores negras um período de sua história, a película hispano-argentina traz à lembrança e deixa seu registro sobre a estupidez e a violência sanguinária da ditadura que sob o pretexto de evitar o comunismo, desencadeou uma das mais brutais repressões na América Latina.

Certamente os adjetivos “estúpida e sanguinária” – e muitos outros infelizmente – se aplicam a todas as ditaduras sem distinção. Parece também que o mundo todo já teve sua dose delas, desgraçadamente. Algumas ainda continuam, disfarçadas ou não!

As cenas que denunciam os famigerados “voos da morte” embora breves e intercaladas em doses homeopáticas no filme Kóblic – personagem do Darín e sobrenome do capitão da Armada que pilotava os aviões encarregados da matança – revelam com clareza ao espectador a dimensão daquele horror revoltante.

O filme se passa  na cidadezinha de Colonia Elena nos cafundós dos pampas argentinos, para onde fugiu tentando se esconder dos colegas militares – e talvez de sua própria consciência – o capitão Kóblic. Como afirma o próprio Darín: não é um filme sobre a ditadura e sim sobre o atormentado peso que o ex-capitão carrega em sua alma, por ter chegado ao ponto de participar de tudo aquilo”…

Chamo a atenção para o ator Oscar Martínez. Não fora Darín o protagonista, seria certamente ofuscado por Martínez no papel do comissário Velarde – delegado de polícia de Colonia Elena.

Seu desempenho tremendamente premeditado, iracundo enfim, magistral cai com uma luva no filme, compondo com Darín talvez o principal elemento da tensão criada do princípio ao fim.

Quem teve a oportunidade de conhecer a onipotência, a truculência e a violência de que é capaz um delegado de polícia de cidade do interior “tira o chapéu” para a formidável atuação de Martínez. Não foi à toa, que com esse papel foi agraciado com o prêmio de melhor ator coadjuvante no Festival de Cinema de Málaga.

Do mesmo modo se sobressai a participação – secundária mas, não menos importante – da atriz andaluz Inma Cuesta no papel de Nancy, uma jovem explorada – literalmente em todos os sentidos – por uma figura verdadeiramente repugnante e muito bem retratada no filme.

O filme Kóblic recebeu ainda o prêmio de melhor fotografia no Festival de Málaga. Não deixe de ver e julgue você mesmo.

Abaixo o trailer:

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