O Tempo entre Costuras – a belíssima série espanhola com a guerra civil como pano de fundo – Netflix
Sira Quiroga – a protagonista
Confesso que não sou fã de assistir séries de filmes. Muito menos de gostar de ver filme em casa. Sou de ir ao cinema. Cada doido com sua maluquice, não é? Mas qual não foi a minha bela surpresa ao conferir, em dias distintos claro, os dezessete episódios que compõem a série O Tempo entre Costuras! Adorei!
Evidente que não farei nenhum spoiler, em respeito àqueles que ainda não viram a série bem como às regras não escritas do NuncaseSabe. Entretanto, isto não me impede de fazer comentários sobre o que achei, após conferir os capítulos da série exibida a partir de 2013, que fez enorme sucesso na Espanha tão logo foi lançada.
A história com um enredo intrincado e bem construído, tem como pano de fundo a Guerra Civil Espanhola de 1936 e o início da Segunda Guerra Mundial. Os sets de filmagem se passam na Espanha, no Marrocos e em Portugal.
Produção franco-espanhola esmeradíssima em todos os sentidos. Grande elenco com ótimos atores dentre os quais Peter Wives, Filipe Ramírez, Hannah New, Alba Flores e Juan Luís Tristán Ulloa. Trajes bem caprichados. Caprichadíssimos… Afinal trata-se de um filme de época e em especial os da protagonista Sira Quiroga – papel interpretado com muito charme, carisma e encanto por Adriana Ugarte – nos remetem aos desfiles de alta-costura.
É bem verdade que Sira se transforma de uma simples modista em alta-costureira num processo que vai se sofisticando com o desenrolar da trama. Figurinos literalmente, de tirar o chapéu… Ela usa esse adereço quase todo o tempo e vocês sabem – desde sempre – que os trocadilhos me perseguem. Não houve Freud, nem Jung, nem Orixá da Bahia que me livrassem deles, até hoje! Portanto, tiro também o meu…
Um dos pontos altos da série, o vestuário ficou por conta de Bina Daigeler. Um desfile de trajes – femininos masculinos – do mais puro glamour e estilo dos anos quarenta. Somente no primeiro episódio a Sira usa mais de trinta e quatro vestidos, de um total de duzentos e trinta modelos diferentes da série! Confiram nas fotos abaixo:
Sira Quiroga e seus trajes
Também não passou despercebida a demonstração dos diretores, de mostrar a evolução do personagem Sira mediante as roupas que portava ao longo do desenrolar da trama, passando dos vestidos simples de algodão para modelos de femme fatale sofisticados, custosos e bem elaborados. Os chapéus então, são um show à parte. Mata Hari que se cuide…
Dirigida por Iñaki Mercero e Norberto López, baseada no livro escrito por María Dueñas com o mesmo título, a série consegue juntar a ficção do romance com fatos reais naquele período da guerra civil espanhola. Posso garantir que não tem como não se sentir arrebatado e transportado – de forma primorosa – para dentro da História. Foi como me senti.
A série conquistou o prêmio Ondas Award for National Television e a protagonista, o prêmio de Melhor Atriz de Ficção, na Espanha.
A trilha sonora composta por César Benito teve músicas na liderança de plataformas digitais. O Álbum ocupou o segundo lugar no iTunes da Espanha e a liderança na categoria trilha sonora. Recebeu também o Prêmio Melhor Música para a Televisão pela Academia de Ciência e Artes da Espanha e até hoje é uma das trilhas sonoras de televisão mais baixadas no Spotify. Acima de dois milhões.
Uma curiosidade é que o “Tema de Sira”, uma das músicas da trilha sonora foi utilizado pela ginasta espanhola Carolina Rodríguez em suas apresentações com fita desde 2014, inclusive na Olimpíada de 2016 no Rio de Janeiro.
Surpreende na série, a ausência de violência explícita. Nos dias de hoje e nos modelos hollywoodianos, coisa rara. Raríssima. Até nas poucas cenas onde sabemos que ela está rondando, o diretor dá um show de sutileza, elaboração e graça. Aliás, falando de elegância os personagens principais e até os coadjuvantes são um retrato da própria. Sobra elegância em O Tempo entre Costuras…
A Sira Quiroga então é de deixar qualquer um maravilhado. Seu personagem possui um carisma e uma inocência que capturam a atenção permanentemente. Uma combinação bem elaborada de fragilidade, coragem e determinação. Sabe aquela pessoa que leva as porradas da vida o tempo todo e, aguenta? Não desiste! Soa familiar? Conhece alguém que preenche os requisitos? Sei…
Além de bela, a Adriana Ugarte dá um show de interpretação. Convincente em cada movimento nos faz acreditar que, independente das surpresas que a vida sempre apresenta, ela encontrará uma maneira de se sair – e bem – das paradas e continuar a fazer – e bem feito – as suas costuras, sejam elas nos tecidos, nas amizades, nas armações ou nas amorosas. Fiquei fã!
Constatei também que quatro personagens da série realmente existiram: a inglesinha quer dizer, deveria falar “a inglesona” (devido à sua altura) Rosalinda Fox, amiga de Sira; Juan Luis Beigbeder, militar importante durante a ditadura franquista, Ministro de Assuntos Exteriores de Espanha em 1939 e amante da Rosalinda; Ramón Serrano Suñer, cunhado de Franco, substituto do Beigbeder quando este foi demitido pelo Franco e figura importantíssima enquanto durou o regime franquista na Espanha e o inglês Alan Hillgarth coordenador dos serviços de espionagem britânicos de 1940 a 1944. Devido a sua atuação – e consequente pressão do governo inglês – foi um dos responsáveis por impedir que Franco se aliasse a Hitler na segunda guerra mundial. Não foi pouco!
O Tempo entre Costuras tem mais esse mérito. Juntar realidade histórica e romance de modo suave, sem forçação de barra, resultando literalmente numa sutil e graciosa costura entre os personagens e suas atividades, sejam elas políticas, empresariais, amorosas ou a vida normal daquele tempo.
Poderia comentar sobre cada um dos personagens que me atraíram porém, melhor deixar que vocês façam suas avaliações e julgamentos. São muitos os personagens importantes na trama e cada um, mais interessante que o outro.
As cenas no Marrocos são deliciosas, com paisagens incrivelmente belas, a arquitetura árabe sempre em destaque, além de flashes sobre os marroquinos que gozam da fama de despreocupados, alegres e hospitaleiros, principalmente com estrangeiros. As tomadas em Tétouan – cidade histórica encravada numa montanha e hoje Patrimônio da Humanidade – são realistas, deslumbrantes e agradáveis. Convencem.
A cidade de Tétouan no Marrocos
Às vezes dá a sensação de que estamos efetivamente participando do filme. Passeando pelas ruas de Madrid, Lisboa, Tanger e Tétouan. Seguindo o caminhar incerto, os passos inseguros e o olhar triste, sonhador e distante de Sira.
Dá vontade inclusive de – passada essa pandemia – pegar o primeiro avião direto para… o Marrocos! Inch Allah!
O drama, o romance, a trama, os personagens, as mulheres, a elegância, a beleza, o tempo, a história, o olhar, a vida… Vejam o trailer abaixo:
https://open.spotify.com/user/juancvarco/playlist/7BFAA03z5pTCgXaChHHWBI?si=fxf9l2EhSnaI54dvd2kCCg
Para arrematar, “viajem” na longa e sensual trilha sonora da série, abaixo! Para resistir a qualquer pandemia! Me remetem às páginas do caro amigo Proust. Ele mesmo, Marcel e seu tempo não tão perdido assim… Afinal, ele não costurava. Escrevia sobre o tempo. O nosso atualmente? Tá f… Deixa prá lá!
https://open.spotify.com/user/juancvarco/playlist/7BFAA03z5pTCgXaChHHWBI?si=StJY-HkjRMSU9wRwWuUDHg
Depois me contem o que acharam!
Beto Benjamin
Oi Beto, não costumo ver séries e principalmente com mais de 6 capítulos pois tenho pouca paciência para esperar os finais mas, você prefaciou com tantos detalhes(coisa de bom engenheiro) e encantamento esse seriado, que vou a ele.
Gostei muito
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